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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Charles Baudelaire - Embriagai-vos


"Embriagai-vos!"

É necessário estar sempre bêbedo.
Tudo se reduz a isso; eis o único problema.
Para não sentirdes o fardo horrível do Tempo,
que vos abate e vos faz pender para a terra,
é preciso que vos embriagueis sem cessar.

Mas - de quê?
De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor.
Contanto que vos embriagueis.

E, se algumas vezes,
nos degraus de um palácio,
na relva verde de um fosso,
na desolada solidão do vosso quarto,
despertardes,
com a embriaguez já atenuada ou desaparecida,
perguntai ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio,
a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola,
a tudo o que canta, a tudo o que fala,
perguntai-lhes que horas são;
e o vento, e a vaga, e a estrela, e o pássaro, e o relógio,
hão de vos responder:

- É a hora da embriaguez!
Para não serdes os martirizados escravos do Tempo,
embriagai-vos sem tréguas!
De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor.

Charles Baudelaire séc. XIX

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O Natal e o Xamanismo


O Natal marca o solstício de inverno no hemisfério norte. É nesse período que os xamãs, até hoje, realizam rituais de passagem para um novo ciclo anual.
Muitos povos xamânicos também comemoravam a cerimonia da árvore, representando a "Árvore do Mundo". Será por isso que levamos uma para dentro de nossas casas e a enfeitamos?
Parto do principio de que a lenda do Pai Natal nasceu na Sibéria, originária de uma tribo na antiga Sibéria chamada O Povo das Renas.


As renas eram para os siberianos o que o búfalo representa para os nativos americanos; eram também consideradas a manifestação do Grande Espírito Rena, invocado pelos xamãs para resolver os problemas do povo. Nas suas jornadas xamânicas, ele viajava, em transe, em um trenó de renas voadoras.

Existe na Sibéria um enteógeno poderoso chamado Amanita muscária, um cogumelo vermelho com manchas brancas.

É o sacramento de seus trabalhos espirituais. A Amanita muscária é um cogumelo enteógeno, que proporciona visões e introvisões de profundo significado. Esse cogumelo contém elementos que permanecem intactos em sua passagem pelo organismo, por isso os xamãs siberianos guardavam e consumiam a própria urina para ser bebida no inverno, quando não havia o cogumelo.
Não eram só os xamãs que usavam amanita, as renas também comiam. Eles até conseguiam atrair renas com a urina, que chegavam a brigar para tomá-la e as laçavam enquanto bebiam.

Alguns caçadores davam pedaços de Amanita para as renas para aumentar a sua força e resistência física, e assim suportarem melhor as longas distâncias.

Se as renas fossem abatidas por alguém nesse momento, quando estavam na manifestação do enteógeno, os efeitos do amanita passariam para quem comesse a sua carne.
Caçadores, ao se alimentarem de renas que haviam ingerido amanita, tiveram uma visão colectiva de um homem vestido de vermelho e branco (cor do cogumelo), um xamã que levava presentes para a população.
Eles viram o xamã voando num trenó de renas.

Daí, conta-se que Pai Natal foi uma visão de homens que se alimentaram das renas que consumiram Amanita.

A roupa do Pai Natal, é por sinal, de origem Lapónica.
Tradicionalmente, os xamãs siberianos eram conduzidos em suas viagens extáticas (jornadas xamânicas) aos mundos profundos (transe) por um trenó de renas. Isso explica a origem de Pai Natal viajando por um trenó de renas. Os habitantes sentiam que os xamãs sempre lhe traziam presentes espirituais. Além disso, a fumaça do fogo onde faziam seu trabalhos saía por uma abertura nas casas (chaminés ), e era por ali que entravam e saiam os espíritos, o que também explica a origem do Pai Natal a entrar pela chaminé.

Um Feliz Natal e um próspero Ano Novo!

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Esquizofrenia ou xamanismo inconsciente?

Esquizofrenia & Xamanismo -Terrence McKenna



"Esquizofrenia é um termo geral para formas de comportamento mental que nós não entendemos".

No século XIX havia o termo melancolia, o que agora chamaríamos de depressão bipolar, e assim por diante. Mas todas as formas de tristeza, infelicidade, maladaptação, e assim por diante, foram rotuladas de melancolia. Agora, a esquizofrenia é algo parecido.

Eu consigo me lembrar de uma experiência que tive anos atrás, eu estava na Biblioteca Tolman, na Universidade da California, que é a biblioteca de psicologia, eu estava investigando alguma droga ou algo, então vi e tirei da prateleira um livro sobre esquizofrenia, e ele dizia: "O esquizofrênico típico vive num mundo de imaginação obscura, marginal à sua sociedade, incapaz de manter um emprego normal, essas pessoas vivem nas margens, desprezadas por navegarem em seus próprios, auto-criados. sistemas de valores."

Eu disse: "É isso!"... "É isso! Agora eu entendo!"

Nós não temos tradição de xamanismo. Nós não temos a tradição de se aventurar nesses mundos mentais. Nós temos pavor do delírio. Nós o tememos porque a mente ocidental é um castelo de cartas, e as pessoas que construiram este castelo sabem disso, e eles tem terror do delírio. Tim (Tomothy) Leary disse uma vez, ou eu lhe dei crédito por ter dito, mais tarde ele me falou que nunca disse, mas seja quem for que disse, esta foi uma frase brilhante. Alguém disse uma vez: O LSD é uma substância psicodélica que ocasionalmente causa comportamento psicótico em pessoas que não tomaram." Certo?

E eu aposto com vocês que mais pessoas demonstraram comportamentos psicóticos por não tomar LSD, mas só de pensar nele, do que jamais foi demonstrado por tomar. Certamente na minha família, eu assisti meus pais ficarem psicóticos com o mero fato do LSD existir, eles nunca tomariam.

Existe uma enorme fobia sobre a mente. A mente ocidental é bem enjoada quando primeiros princípios são questionados. Mais raros que cadáveres, nesta sociedade, são os delirantes não tratados, porque nós não conseguimos chegar a um acordo com isso.

Um xamã é alguém que nada no mesmo oceano que o esquizofrênico, mas o xamã possui milhares e milhares de anos de técnicas e tradições sancionadas dos quais se basear. Numa sociedade tradicional, se você apresenta "tendências esquizofrênicas", você é imediatamente separado do bando e colocado sob o cuidado e a tutela de mestres xamãs, é dita a você: "Você é especial, suas habilidades são centrais para a saúde de nossa sociedade, você vai curar, você vai profetizr, você guiará nossa sociedade em suas decições mais fundamentais." Compare isso com o que é dito a uma pessoa apresentando "tendências esquizofrênicas" na nossa sociedade: "Você não se encaixa, você está se tornando um problema, você não se sustenta, você não tem o mesmo valor para nós, você está doente, você precisa ir para o hospital, você tem que ser trancado, você está em par com prisioneiros e cachorros perdidos na nossa sociedade."

Então, este tratamento da esquizofrenia a torna incurável. Imagine se você fosse um pouco estranho, e a solução fosse te colocar num lugar onde todos estão gravemente dementes. Isto enlouqueceria qualquer um. Se você já foi num hospício, você sabe que é um ambiente calculado para te deuxar louco, e te manter louco.

Isto nunca aconteceria numa sociedade aborígene ou tradicional.

Eu escrevi um livro... e este precisa ser o encerramente porque passamos do tempo...
Mas, eu escrevi um livro chamado "O retorno à cultura arcaica", eu o assinei esta noite para alguns de vocês. Nele a idéia é que nós adoecemos por seguir um caminho de racionalismo sem limites, atenção machista a superfície visível das coisas, praticalidade, visão geral e vaga das coisas. Nós ficamos muito, muito doentes, e a política corporal, como em qualquer corpo, quando ele sente que está doente, ele começa a produzir anti-corpos, ou estratégias para superar a condição de doença. O Século XX é um enorme esforço de auto-cura. Fenômenos tão diversos quanto o surrealismo, piercings, uso de drogas psicodélicas, tolerância sexual, jazz, dança experimental, cultura de rave, tatuagem, a lista é interminável... O que todas essas coisas tem em comum?
Elas representam vários estilos de rejeição de valores lineares. A sociedade está tentando se curar através de um retorno à cultura arcaica, por uma reversão à valores arcaicos.

Então, quando eu vejo as pessoas manifestando liberdade sexual, ou se escarificando, ou mostrando muita pele, ou dançando em ritmos sincopados, ou se embriagando, ou violando cânones religiosos de comportamento sexual, eu aplaudo tudo isso, porque é um impulso para retornar ao que é sentido pelo corpo, ao que é autêntico, ao que é arcaico. Quando você destrincha esses impulsos arcaicos, bem no centro desses impulsos está o desejo de voltar para um mundo de fortalecimento mágico do sentimento, e no centro deste impulso está o xamã, drogado, intoxicado com plantas, falando com os espíritos ajudantes, dançando sob o luar, e vivificando e invocando um mundo de mistério vivo consciente.

O Mundo é isso. O Mundo não é um problema sem solução para cientistas e sociólogos, o Mundo é um mistério vivo. Nosso nascimento, nossa morte, nosso estar no presente, isso são mistérios, eles são portais se abrindo para vistas inimagináveis de auto-exploração, autorização e esperança para a empresa humana.

A nossa cultura destruiu isto, nos tirou isto, nos fez consumidores de produtos mal-feitos e ideais ainda mais mal-feitos. Nós temos que nos afastar disso, e o modo de se afastar é retornar à autêntica experiência do corpo. E isto significa nos autorizarmos sexualmente, e nos drogar, explorar a mente, como uma ferramenta para transformações pessoais e sociais.

A hora é tarde, o tempo está passando. Nós seremos julgados severamente se deixarmos a bola cair. Nós somos os herdeiros de milhões e milhões de anos, de vidas vividas com sucesso, e bem sucedidas adaptações às mudanãs nas condições do mundo natural.

Agora o desafio é nosso, dos vivos, para que os que estão para nascer tenham um lugar sob seus pés e um céu sobre suas cabeças.

É disso que se trata a experiência psicodélica, é se importar com a autorização e construção de um futuro que honre o passado, honre o planeta e honre o poder da imaginação humana. Não existe nada de tão poderoso, tão capaz de transformar a si e o planeta, do que a imaginação humana. Não vamos vendê-la! Não vamos nos prostituir à ideologias estúpidas! Não vamos estregar nosso controle aos de mais baixo grau entre nós! Ao invés, tome o seu lugar ao sol e vá em direção à luz. As ferramentas estõa lá, o caminho é conhecido, você só deve virar as costas para uma cultura que está se tornando estéril e morta, e entrar no programa de um Mundo Vivo e da autorização da força da imaginação. Muito obrigado!

McKenna - 1946 – 2000
Um etnobotânico e ensaísta filosófico norte-americano